edição:Velho Conselheiro Ze de Mello a 22.8.06
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A arte na fronteira
reportagem de Miguel Judas publicada a 16 de Setembro de 2004 na Revista Visão
A vontade de um coleccionador vai fazer de Elvas a primeira cidade portuguesa com um museu dedicado, exclusivamente, à arte portuguesa contemporânea
Fernanda Fragateiro, José Pedro Croft , Pedro Cabrita Reis e Rui Chafes são alguns dos autores das cerca de 250 obras que compõem o acervo do futuro Museu de Arte Contemporânea de Elvas (MACE), com inauguração prevista para Setembro de 2005. O projecto é o resultado de uma conjugação de vontades entre a Câmara Municipal (que comprou o imóvel), o Instituto Português de Museus e um coleccionador da região, António Cachola, que cedeu as suas obras ao MACE por um período de 13 anos. O museu ficará instalado num edifício do século XVII, situado em pleno centro histórico, e o projecto de recuperação é da responsabilidade dos arquitectos Pedro Reis e João Regal e do designer Filipe Alarcão.
Constituída por obras de alguns dos nomes mais importantes da arte portuguesa contemporânea (dos anos 80 e 90), a colecção é o resultado de quase uma década de trabalho de António Cachola, 50 anos. Natural de Elvas, casado e com uma filha, este economista – com uma pós-graduação em Finanças Empresariais - começou a coleccionar, «por puro prazer pessoal, mais ou menos a meio da década de 90». O interesse pela área surgiu porém um pouco mais cedo, no início dos anos 80, durante uns Encontros de Arte Moderna em Campo Maior, a localidade onde vive e onde exerce há 25 anos as funções de administrador do grupo Delta.
«Depois de adquirir as primeiras obras comecei a pensar que gostaria de dar alguma visibilidade às peças; mostrar passou então a ser um objectivo, o que me obrigou a ter muito mais rigor e cuidado com o que adquiria», conta à VISÃO António Cachola. O convite para uma primeira mostra surgiu em 1999 e veio do outro lado da fronteira, do Museu Extremenho e Ibero-Americano de Arte Contemporânea (MEIAC), em Badajoz.
«O interesse manifestado pelo MEIAC e o êxito da exposição reforçaram a minha vontade de criar um museu, mas para isso era necessário fortalecer a colecção», refere. António Cachola recorreu então aos conselhos do crítico de arte João Pinharanda , que já havia comissariado a mostra de Badajoz. «Apenas ajudei a definir o perfil da colecção, indicando alguns artistas e obras especifícas , pelo que se tratou de uma situação especial de comissariado», explica à VISÃO João Pinharanda , que elogia o «sentido prospectivo» de Cachola. «Agora somos apenas amigos e é com orgulho que assisto à criação do museu», acrescenta.
A colecção
No decorrer dos últimos anos, António Cachola orientou a sua procura no sentido de colmatar algumas das falhas que inicialmente apontaram à sua colecção, nomeadamente a pouca representação de artistas da década de 80. Entre as aquisições efectuadas contam-se duas peças a Pedro Cabrita Reis e a série de 40 fotografias de grandes dimensões Anatomia e Boxe, de Jorge Molder . Cachola reforçou ainda muitos dos nomes já representados com a aquisição de novas obras a artistas como Joana Vasconcelos, José Pedro Croft , Rui Chafes ou Rui Sanches. Mais recentemente, e com o objectivo de manter o padrão evolutivo, foram adquiridos trabalhos de nomes ainda não representados na colecção, como Adriana Molder , Gil Heitor Cortesão ou João Pedro Vale, entre outros.
Badajoz ali ao lado
A escolha do local para o museu também não é inocente, conforme sublinha António Cachola: «Sou natural desta zona, por isso este projecto é também uma forma de trazer um tipo de propostas culturais que normalmente só está disponível nos grandes centros». Reconhece, todavia, que o museu terá de ser «um pólo de atracção com identidade própria», com uma área de influência que se pretende de Lisboa até Madrid. «Para isso teremos de encontrar um rumo com iniciativas que cativem o público. Vai ser necessário um departamento de programação muito bem estruturado. Poderá até nem ser uma estrutura fixa, mas é preciso que seja composto por alguém com experiência no meio», admite António Cachola.
Com o nascimento do MACE garantido, a próxima batalha que espera o coleccionador tem que ver com a dinâmica do museu, conforme reconhece João Pinharanda : «A descentralização da arte é fundamental, mas agora é necessário que o museu não se transforme apenas num depósito. É necessária uma programação própria, com eventos que possam mobilizar o público. Para além disso existe a proximidade com Badajoz, que tem de ser aproveitada.» A relação com o MEIAC, a apenas nove quilómetros, é uma das prioridades de António Cachola, que pretende vê-la rendibilizada com «a criação de parcerias entre as duas instituições».
O programa do museu, bem como o seu perfil, já foi entretanto elaborado pela técnica Maria Jesus Ávila, do Museu do Chiado e, logo que esteja em funcionamento, o MACE será integrado na Rede Portuguesa de Museus, podendo, então, candidatar-se a vários projectos de estudo, investigação e conservação. «Penso é que tudo isto já devia estar a andar, porque o trabalho de um museu não começa só no dia da inauguração», sustenta João Pinharanda . O aparente atraso não provoca no entanto grandes receios ao crítico: «Tenho uma grande confiança no António Cachola, o seu trabalho até aqui já provou que não há obstáculos para ele. »
Elvas, cidade museu
A intenção de criar um Museu de Arte Moderna em Elvas apanhou de surpresa o presidente da autarquia, Rondão Almeida, que desconhecia a existência da Colecção António Cachola – o coleccionador apresentou a proposta ao autarca no ano 2000. «Com uma colecção e um coleccionador disposto a mostrá-la, competia à Câmara arranjar um local. Foi isso que fizemos, ao adquirir à Misericórdia de Évora o edifício onde vai funcionar o museu», explica Rondão Almeida. O projecto de recuperação do imóvel tem um orçamento superior a três milhões de euros, atribuídos pelo Plano Operacional de Cultura, com uma participação camarária de 25 por cento. Depois de pronto, o MACE deverá ter uma área de 3 mil metros quadrados.
«Por outro lado, um projecto destes é uma mais-valia para a cidade, porque traz com ele uma projecção nacional», acrescenta o autarca. Mas também porque um museu com este perfil se enquadra na perfeição no plano municipal de fazer de Elvas uma « cidade-museu », que já levou à criação de um conjunto de núcleos temáticos em alguns dos edifícios históricos da cidade. São eles o Museu de Arte Sacra, o Museu Militar (no Forte de Santa Luzia), da Fotografia (no antigo cinema São Mateus), de Arqueologia e o Rural, a abrir brevemente.

4 comentários:

Anónimo disse...

inauguração em 2005 não vale. é já passado. Compra a´Mirericórdia de EVORA é falso, foi á de ELVAS.
Mas, passemos adiante. A Câmara de Elvas faz grandes apostas no cimento armado que permite criar condições para a abertura dos Museus. Depois, aposta mais em estar presente nos festejos populares que dão votos, do que acompanhar a vida e obra dos espaços museológicos.
A yítulo de exemplo e pata não me alongar mais perginto: ondr rstavam o Presidente e os Vereadores na tarde do passado sábado quando António Cadete inaugurus a exposição de pintura no Museu da Fotografia???
Lá não estiveram, garantidamente.
Assim se apoia a cultura, nesta Cidade.
Esperamos que o mesmo se não passe com o Museu de Arte Contemporânea.

Anónimo disse...

O Dr Cachola como Elvense merece que o museo funcione BEM! porque os outros são conhecidos só pela estatistica de entradas divulgadas no pasquim do regedor.
É estranho mas a mim na rua os turistas nunca me perguntaram onde ficava QUALQUER dos nossos museos! mas o "arco iris" passados 10 anos do encerramento, ainda me pergunta onde fica.

Anónimo disse...

quem anda pergunta pelo Arco-iris são os visitantes, não turistas, que em tempos ja idos e irrecuperáveis visitavam Elvas para comprar toalhas, faianças e faqueiros. os turistas que visitam os Museus já estão devidamente documentados sobre o que devem visitar em cada terra e, quando muito, procuram os postos de turismo para esclarecimentos adicionais.é esta a aposta que temos de fazer já que, ao que parece, a Região de Turismo de S. Mamede o não fez bem o Norte Alentejano o está a fazer.
Talvez a rede comercial DELTA SEJA MAIS ECICIENTE.

Anónimo disse...

Mas não se perde uma oportunidade de ouro trnsformar os visitantes em turistas, ou seja divulgar o que temos para que o visitante permaneça mais tempo e se transforme em turista! e assim todos beneficiem?

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