edição:Velho Conselheiro Ze de Mello a 14.12.05
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Percurso evocativo da caminhada de Jesus pelas ruas de Jerusalém, desde o Pretório de Pilatos até ao Calvário (já fora dos muros da cidade), a Via Sacra foi recriada nos mais variados locais, para recordar, a quem a percorresse, a Paixão de Cristo, observando a iconografia presente em cada uma das estações. Esta ideia de caminho que conduz à vida eterna, ou percurso da salvação, foi evocado, muitas vezes, nos longos escadórios barrocos, associada à Paixão de Cristo e à Via Sacra, como acontece, por exemplo, no caso do santuário do Bom Jesus do Monte, ou no Buçaco, ou como estava projectado para o Santuário do Socorro, em Ponte de Lima.
Em Elvas, e em muitas outras vilas e cidades, a Via Sacra é um trajecto urbano, marcado por um conjunto de passos, que mais não são do que pequenas capelas inscritas nos alçados dos edifícios. A 6 de Novembro de 1724 foi acordado a construção das capelas dos passos pela Irmandade da Chagas, concluindo-se um ano depois a capela da Rua do Alcamim, em 1726 o do Largo da Misericórdia, em 1727 o da Rua da Cadeia, sendo este em 1728 transferido para o Largo S. João de Deus e em 1730 é concluído o da Rua de Olivença.
Todos apresentam a mesma estrutura arquitectónica e decoração exterior encaixada em edifícios de maior volumetria, só o quarto passo se apresenta destacado como volume simples, dado ter sido transferido; arco de volta perfeita em mármore enquadrado por pilastras que suportam o entablamento; sobre este medalhão central quadrangular ladeado por uma voluta e um anjo de cada lado e encimado por pequeno frontão arredondado com concha ao centro, anjos e cruz em cima; uma grade de ferro forjado decorada com enrolamentos fecha o vão das capelas, sendo trabalhos datados de 1861.

Primeiro passo – Rua de Alcamim: parede da Epístola coberto por azulejos azuis a brancos figurados representando soldados romanos, um deles a cavalo, com elementos arquitectónicos, putti, motivos vegetalistas e concheados no enquadramento. Parede do Evangelho revestido com painel azulejar alusivo à terceira estação em que Jesus cai pela primeira vez. Retábulo com tela com mesmo tema do pano do Evangelho com moldura de mármore preto encimada por cabeças de anjos esculpidas em mármore branco. Cobertura com abóbada de arestas revestida com azulejos que completam o programa decorativo da capela, com representações dos símbolos da Paixão de Cristo; pavimento de mármore e cimento pintado.
Segundo passo – Largo da Misericórdia: parede da Epístola preenchido com azulejos figurados azuis e brancos representando o encontro de Jesus com Sua Mãe. Parede do Evangelho tem porta com moldura marmórea sendo a restante superfície ocupada por painel de azulejos com a mesma temática do outro pano. Retábulo com pintura a óleo representando o encontro de Cristo com a Sua Mãe com moldura de mármore preto sobrepujada por cabeças de anjos alados de mármore claro. Cobertura com abóbada de arestas revestida a azulejos com motivos vegetalistas e cabeças de anjos alados que enquadram símbolos da Paixão; pavimento de mármore e cimento pintado.
Terceiro passo – Rua André Gonçalves: Parede da Epístola preenchido por painel azulejar, parcialmente desaparecido, relativo à 8ª Estação na qual Jesus consola as filhas de Jerusalém. Parede do Evangelho com painel azulejar representando a mesma temática do painel do lado oposto. Retábulo com tela representativa da segunda estação, momento na qual Jesus cai pela segunda vez, tem moldura de mármore escuro e decoração com cabeças de anjos alados sobre a verga. Cobertura com abóbada de arestas decorada com azulejos azuis e brancos que completam o programa decorativo dos panos com símbolos da Paixão; pavimento de mármore e cimento pintado
Quarto Passo – Largo S. João de Deus: Parede da Epístola revestido de azulejos figurados que parecem representar David consternado e choroso. Parede do Evangelho com painel azulejar que parece referir-se ao funeral do Rei Josias. Retábulo rectangular de talha dourada que representa Jesus a ser açoitado, claramente subdimensionado para o enquadramento de mármore preto sobrepujado por cabeça de anjo alado e panejamento que cai atado com nós . Cobertura com abóbada de arestas caiada; pavimento de mármore e cimento pintado.
Quinto passo – Rua de Olivença: Parede da Epístola com painel azulejar representando Cireneu a sopesar a cruz. Parede do Evangelho preenchido com azulejos onde se pode ver um grupo de soldados romanos. Retábulo com tela representando Jesus ao lado de Verónica que exibe o lenço com o Seu rosto, emolduramento com mármore preto encimado por anjos aladas à semelhança do que acontece em outros passos. Cobertura com abóbada de arestas revestida com azulejos pintados com os símbolos da Paixão; pavimento de mármore e cimento pintado.
Estes espaços pertença da Igreja Católica local e zelados por particulares estão classificados como Imovéis de Interesse Público (Dec. nº 67/97, DR 301 de 31 Dezembro 1997), sendo que alguns deles apresentam mau estado de conservação havendo o risco de, na boa vontade dos seus guardiões, se fazerem trabalhos de restauros sem o devido acompanhamento técnico.

1 comentários:

Anónimo disse...

Excelentíssimo Sr. Zé de Melo teria o maior prazer em participar na sua rubrica "Elvas Monumental", pois seria, mais do que a divulgação do meu trabalho, a divulgação de um espaço que há muito merece uma atenção mais dedicada. Para além deste, outros trabalhos de menor "importância", foram feitos sobre a Igreja de São Domingos de Elvas. Agradeço que me diga de que forma posso contribuir e especificar qual a parte que mais lhe interessa na igreja, pois o meu trabalho tem, só de texto cerca de 70 pp.
Felicito-o pela divulgação dos encantos da nossa cidade. Este é para mim ponto de paragem. Obrigado pelo convite e aguardo resposta
Bem Haja :)
Rita

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